A relevância das mídias sociais na eleição

O reino do mais absoluto imprevisível: A relevância das mídias sociais na eleição

Você pode ou não gostar do candidato A, B ou C. Ter brigado bastante com seus amigos, inimigos ou sua família por causa de política. Mas, em meio a tanta confusão, de uma coisa ninguém discorda: A relevância das mídias sociais na eleição de 2018 é algo sem precedentes na história do Brasil.

Ampliando o cenário inusitado, soma-se uma cena política única: A candidatura do ex-presidente Lula vetada por sua prisão em Curitiba, sendo substituído por Fernando Haddad no último minuto. O candidato Jair Bolsonaro esfaqueado no começo da campanha impedido de sair às ruas e participar de debates. Tudo isso, em meio ao furacão da operação Lava-Jato, formou um cenário eleitoral bastante problemático, onde as mídias sociais acabaram tendo um papel especial.

2+2=5 : a lógica invertida dos investimentos e resultados 

O candidato que mais gastou dinheiro com a campanha, Henrique Meirelles do (MDB) investiu R$ 53,2 milhões (R$ 41,27 por eleitor) terminando a disputa com 1,20% dos votos. Empatado com Meirelles, vem um dos candidatos mais inusitados da eleição, o deputado Cabo Daciolo (Patriota) que captou o investimento de campanha de R$ 808,92 mil (R$ 0,0005/eleitor) através de um financiamento coletivo na Internet, atingindo a marca de 1,26% dos votos.

Cabo Daciolo, até antes da eleição desconhecido a nível nacional, tem uma participação bastante ativa nas redes sociais. Posta vídeos, faz lives no Facebook, foi alvo de inúmeros memes devido ao seu bordão “Gloria a Deuxxxx” que reproduz seu sotaque carioca. Na carona do sucesso do bordão, grava diversos vídeos que viralizam com facilidade, onde diz a frase em diversos locais e situações.

Daciolo

Geraldo Alckmin (PSDB), uma potência política, gastou R$ 51 milhões (R$ 10,00/eleitor) e obteve o pífio resultado de 4,76% dos votos. Devido à alianças e alto valor de recursos, Alckmin angariou grande tempo de exposição na TV e no rádio, focando sua retórica dentro dos padrões mais tradicionais do marketing político. Alckmin utilizou o Instagram, porém sem ousadia. Anúncios básicos, quase réplicas do que fez na TV, renderam-lhe em média 800 curtidas por post, o que em comparação com o primeiro colocado do primeiro turno Jair Bolsonaro  (PSL- 46%) é ínfimo.

Bolsonaro, afastado em virtude do atentado sofrido, teve as redes sociais como única alternativa de campanha. Seus posts atingem em média 500.000 curtidas. As postagens são muito simples, cotidianas, como fotos fazendo a barba, ou assistindo TV de bermuda no sofá (mais de 1 milhão de likes). Este cenário só comprova que a relevância das mídias sociais na eleição foi avassaladora.

bolsonaro

Parlamentares digitais: eleitos das mídias sociais

Mais ainda do que políticos experientes fazendo bom e mal uso das mídias sociais, novos nomes foram eleitos justamente porque surgiram nas redes. Kim Kataguiri (DEM) tem apenas 22 anos e é um dos fundadores do MBL, movimento que através de redes sociais convocou diversas manifestações e viralizou inúmeros memes apoiando o Impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff. O trabalho de Kim nas mídias sociais foi tão intenso desde 2016, que culminou com sua eleição como deputado federal por SP.

Outro caso interessante é o do Youtuber Luís Miranda, eleito deputado federal no DF. Luís nem sequer mora no Brasil. Vivendo em Miami desde 2014, ficou famoso na rede por dar dicas de como empreender nos EUA.

Porém, vale dizer que a relevância das mídias sociais na eleição ainda não é notada por muitos. Eleitores mais tradicionais, não tão adeptos ao uso das redes sociais, nem ao menos sabem quem estas pessoas são. Já vão conhecê-los em posições de comando no país.

Caos organizado: fake news, paixões e migrações em massa 

Outro tema bastante falado é o do papel das redes sociais na disseminação de notícias falsas (fake news). A famosa foto do boletim de urna, comprovadamente falsa, onde a contagem de votos não fechava, foi disseminada em tom de alarde e desespero. Embora desmentida, seu poder de abalar a credibilidade das urnas eletrônicas permanece — muita gente ainda não sabe que se trata de uma notícia falsa. Uma vez jogada nas redes, mesmo as fake news contam com um enorme poder de influência.

 

Há também o surgimento de uma nova função: a de cabo eleitoral digital. Em meio a uma eleição permeada por paixões e extremos, usuários de redes sociais fazem propaganda gratuita, despejam memes e hashtags contra ou a favor aos candidatos. Grupos se formam no Facebook e WhatsApp decidindo inclusive estratégias de voto útil. Muitos eleitores, tanto de Jair Bolsonaro, quanto de Fernando Haddad influenciaram tantos outros a concentrarem os votos em seus candidatos, para que ambos estivessem presentes no segundo turno da eleição. E conseguiram.  

Vale lembrar que muitos dos movimentos influenciadores do resultado destas eleições foram absolutamente espontâneos. Posts, memes, vídeos, conteúdos criados sem fins lucrativos, deram o tom da disputa e projetam o futuro dos próximos pleitos.

Em meio a tanto sucesso vindo do simples amadorismo, muitas agências de marketing digital ainda estão tentando buscar e entender os padrões para trabalharem focadas neste novo fenômeno. Por enquanto, tudo flui na onda do mais absoluto imprevisível. Até George Orwell, autor do épico 1984 ficaria estarrecido com a relevância das mídias sociais na eleição brasileira. E você, tem um palpite sobre o que vai acontecer nas eleições futuras? Então, conte aqui pra gente.

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